Família, Adolescência e Automutilação

- Infância e Adolescência

A adolescência é vista como um período de transição entre a infância e a idade adulta e está associada a mudanças no nível físico, psicológico, social e cognitivo.

As transformações vividas pelo adolescente, ainda que muito individuais, não se processam isoladamente, ocorrendo integradas num contexto social que inclui a família, a escola e os pares.

Sendo a família a principal fonte de socialização, ocupando um lugar de destaque no desenvolvimento e formação do adolescente, influenciando estados de humor e padrões de comportamento, fica evidente o papel dos pais para uma realização bem-sucedida das tarefas necessárias ao desenvolvimento dos seus filhos.

A comunicação é uma das dimensões fundamentais para que o adolescente desenvolva sua autoestima positiva e estabeleça uma identidade autônoma e independente, valorizando as recomendações parentais, que refletem a preocupação dos pais para com o bem-estar dos filhos, criando no adolescente uma maior satisfação com ambiente familiar e um menos envolvimento em comportamentos de risco.

Vários estudos associam dificuldades no funcionamento familiar ao desenvolvimento do adolescente em comportamento de risco para a saúde, seja com o consumo de substâncias, comportamento alimentar inadequado e não regulado, práticas sexuais de risco, automutilação ou suicídio.

As consequências da inadequação do funcionamento familiar têm ainda repercussões na saúde mental do adolescente quando a família não assegura ao adolescente as condições necessárias ao seu desenvolvimento. Podem surgir sintomas depressivos ou depressão como manifestação da insatisfação para com a inadequação familiar. A depressão é uma das patologias mais prevalentes na adolescência, caracterizando pela presença de humor deprimido ou irritado, com perda de interesse por atividades anteriormente prazerosas (APA, 2004).

A instabilidade familiar pode gerar no adolescente um aumento da depressão, colocando a saúde do mesmo em risco. Vários estudos mostram que adolescentes deprimidos representam o grupo mais vulnerável para o envolvimento em comportamentos de automutilação e suicídio.

A automutilação engloba um conjunto de ferimentos auto infligidos, sem intenção suicida consciente, resultando, contudo, em dano nos tecidos do corpo (Gratz, 2006). A forma mais comum de automutilação implica cortar ou rasgar a pele. É ainda de referir outras formas de automutilação como sejam pontapear, provocar queimaduras e arranhar. As áreas atingidas caracterizam-se por serem facilmente ocultadas, de modo a que o comportamento passe despercebido, e incluem braços, coxas e zona abdominal.

O seu inicio típico ocorre na adolescência. Este comportamento é referido na literatura como sendo uma tentativa de lidar com emoções negativas, de alguns modos inerentes ao período da adolescência: frustação, desvalorização, rejeição. O provocar uma dor física, definida, localizável, permite um alívio da emoção negativa, deslocando o foco de atenção do sofrimento e servindo as funções de estratégia de regulação emocional. Este comportamento pode ainda ser contextualizado como servindo a outras funções, para além da regulação emocional. Assim, a automutilação pode ser vista como uma forma de autopunição, com o adolescente a canalizar para si mesmo a ira que sente. Pode também ser uma forma de interromper estados dissociativos, permitindo ao adolescente um retorno à realidade. O fato de o adolescente se ferir de forma intencional permite-lhe exercer nos outros, família, amigos, pares, algum poder, influenciando o meio de forma a torná-lo mais previsível. O desejo de se automutilar surge como fruto de um impulso, precipitado por um acumular de acontecimentos estressantes, embora sem envolver intenção suicida consciente, adolescentes que se automutilam estão em maior risco de cometerem suicídio. Assim, o comportamento de automutilação pode atuar como estratégias para evitar o comportamento suicida.

O comportamento suicida envolve um conjunto de pensamentos, motivações e ações cujo intuito é o de termo à própria vida, implica em uma autoagressão intencional com o fim de provocar a própria morte. Mas é necessário diferenciar a ideação suicida e intenção suicida. A ideação suicida refere-se a pensamentos acerca da própria morte, sem ter ocorrido qualquer tentativa no sentido de atentar contra a própria vida. A intenção suicida pressupõe a existência de um plano, visualizando a forma, o meio e o local onde a ato suicida ocorrerá. Os comportamentos autodestruitivos, como são exemplos o comportamento de automutilação e o suicídio, manifestam-se, sobretudo em adolescentes que apresentam problemas relacionais, especialmente a nível familiar, onde é frequente existir conflito, com críticas sistemáticas e falta de afeto, com recurso a soluções desadaptadas, cujas consequências são frequentemente irreversíveis. O trabalhar e os desenvolvimentos emocionais dessas famílias são importantes para mudanças de comportamentos.

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Thaynara Rodrigues
CRP 08/18560

Psicóloga do Espaço Konsenti
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